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Quando o amar se torna sofrer


Como sei se estou com problemas no relacionamento?

A característica principal de um relacionamento problemático é o sofrimento trazido pelo mesmo. Sofrimento e prejuízos na saúde, no trabalho e nas outras relações de uma maneira em geral são uma constante em relações “doentias”. Uma queixa comum entre as pessoas que estão sofrendo por amor é a de que os pensamentos em relação ao parceiro ou a vida dele ocupam a maior parte do tempo, dificultando muitas vezes a concentração no trabalho ou em outras ocupações.

É interessante notar que as pessoas que se envolvem em relacionamentos conflituosos geralmente possuem características comuns. Entre elas vale ressaltar o gosto ou envolvimento frequente com homens/mulheres “problemáticos” ou indisponíveis. Ao se envolverem com estes parceiros essas pessoas parecem adotar como meta ou obsessão por transformá-los em pessoas melhores e ou mais felizes.

Os comportamentos em função dos parceiros se tornam tão intensos que chegam mesmo a se tornarem uma obsessão, pensamentos sobre onde ou com quem ele está, o que está fazendo, porque não atendeu o celular, porque não retornou a mensagem e por aí vai. O fato é que por trás desta obsessão escondem-se muitos medos, medo de perder o parceiro, medo de ficar sozinha, medo de ser abandonada, medo de ser rejeitada. E na esperança de não perder este “grande amor” estas parceiras acabam se empenhando cada vez mais em tornar o outro preso ou envolvido no relacionamento.

Ainda que estes relacionamentos possam trazer profundos sofrimentos, indivíduos que se envolvem neste tipo de relação costumam se referirem a tais conflitos como se fizessem parte do amor ou de uma relação saudável. De fato, se preocupar com o parceiro é algo importante em uma relação, desde que sejam direcionados a alguém que se comporta de maneira recíproca e respeitosa em relação aos nossos sentimentos.

Todavia o problema nem sempre é o parceiro problemático, mas a necessidade de conflitos nos relacionamentos a fim de criar mais emoção. Prova disso é a falta de atração de algumas mulheres por homens que se mostram mais interessados em um compromisso genuíno ou aqueles que se mostram estáveis e seguros. Muitas vezes, se referem a estes parceiros como chatos, pegajosos e que não provocam a euforia trazida por parceiros indisponíveis.

Também é característico neste tipo de relação o profundo prazer nas relações sexuais, talvez provocado pela excitação das brigas. Ou então, como forma de afirmar para o outro que a relação vale a pena. É como já dizia a letra de uma música sertaneja: “E se de dia a gente briga, à noite a gente se ama. É que nossas diferenças se acabam no quarto em cima da cama”. O fato é que as diferenças acabam até a manhã seguinte ou até o próximo telefonema não atendido ou até a próxima “pisada de bola”. Todas essas características podem parecer muito comuns nos relacionamentos de hoje em dia ou nos que você conhece. Você pode estar se perguntando: mas por quê?


Como posso ter aprendido a amar assim?

Geralmente a explicação sobre como aprendemos a nos relacionar desta forma pode estar em uma história de abandono afetivo. De modo que ter se sentido abandonado, rejeitado, ou não ter tido suas expectativas atendidas se tornou tão comum e habitual que estas parceiras acreditam que o amor realmente é assim, é como diz outra música sertaneja “quanto tempo o coração leva pra saber que sinônimo de amar é sofrer?”. Podemos dizer que talvez ele leve algumas experiências não bem sucedidas, experiências, infelizmente, muitas vezes vivida na infância.

Nosso primeiro círculo social ou relacional é a família. Se você cresceu num lar em que suas necessidades emocionais foram negligenciadas, em que não recebeu o afeto necessário para um desenvolvimento saudável, provavelmente será pouco provável que se sinta a vontade na vida adulta quando receber estes afetos. Esta talvez seja uma possível explicação para o desconforto com parceiros amáveis.

Além disso, se você conviveu em um lar desajustado em que o desequilíbrio emocional de quem deveria te dar amor tomava conta da casa é explicável que na vida adulta isso pareça natural ou “sinônimo de amor”. É como diz a autora Robin Norwood no livro “Mulheres que amam demais”: “Como não pôde transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, você reage fortemente ao tipo de homem familiar, mas inacessível, o qual você tenta, mais uma vez, transformar através de seu amor”.

Se uma criança não foi educada para receber amor simplesmente por existir é pouco provável que isso seja comum para ela durante sua vida. Daí a necessidade de se esforçar para receber algo em troca, mesmo que este algo seja o amor.

Quando uma criança expressa seus sentimentos e percepções na família e ela é punida ou ignorada por isso é como se estes sentimentos e percepções não fossem importantes ou fossem falsos. Logo ela aprende que pouco importa o que sente e o que quer em uma relação. Ou pior, é pouco provável que agora esta criança se sinta segura para tomar decisões baseadas no que a faz sentir melhor, porque lhe foi ensinado que isto não importa ou que não é verdadeiro.

Não podemos responsabilizar unicamente a família por esta história de abandono emocional, pois os modelos de relacionamentos conflituosos e sofridos também se encontram nas novelas, nos filmes e não apenas nas músicas. Até mesmo nas historinhas infantis. Modelos de parceiros que sofrem durante muito tempo para desembarcar num final feliz para sempre. “Sempre” que ninguém sabe como é. Ou alguém sabe como foram dez anos de casamento da Cinderela? Que amor é este que leva dois jovens a se matarem como no filme Romeu e Julieta? No dicionário isto também é suicídio.

Estas são possíveis explicações sobre o como você pode ter aprendido estes comportamentos (por heranças culturais e por elementos de sua história de vida). No entanto, você pode estar se perguntando ainda: mas por que continuo sendo assim?


Por que, mesmo após muito tempo, continuo me comportando desta forma?

Esta é uma pergunta muito particular, mas algumas reflexões talvez ajudem a esclarecer. A primeira delas foi bem mencionada acima. Se não nos foi ensinado como se relacionar de forma saudável e escolher pessoas que nos fazem sentir bem é pouco provável que adquiramos estas habilidades sozinhas.

Um relacionamento conflituoso ocupa tempo e espaço demais na vida de uma pessoa e esta, como já foi dito, costuma ser uma queixa constante de algumas mulheres/homens. Uma explicação plausível é a de que tendo este tempo ocupado, estas parceiras não teriam de se haver com suas próprias vidas, com seus vazios, com suas angústias vividas no passado, de repente com a inadequação de um pai ou de uma mãe, ou de ambos e também com as angústias do momento presente que pode não ter sido como gostariam que fosse.

Por medo de sofrerem encarando suas próprias dores estas parceiras(os) se refugiam na tentativa insana de curar a dor do outro. É como diz ainda a autora Robin Norwood “Você tende a ter momentos de depressão, e tenta preveni-los através da agitação criada por um relacionamento instável”. E nada mais agitado do que se relacionar com um parceiro problemático ou indisponível


Mas o que seria um parceiro indisponível ou problemático?

Continuando a citar Robin Norwood, o homem problemático é aquele incapaz de relacionar-se amorosamente, ou seja, frio e não afetuoso, inflexível, egoísta, mal-humorado, melancólico, precipitado, irresponsável, incapaz de assumir um compromisso, ou de ser fiel.

A indisponibilidade destes parceiros pode ser de diversas formas, não apenas pelo uso de drogas, por exemplo, mas também por fatores da própria historia de vida e que diz respeito apenas a eles, não cabendo a nenhuma “salvadora” tirá-lo deste estado. Isso seria esforço demais e inútil, pois nem mesmo uma ameaça, uma ajuda profissional ou o maior amor do mundo poderá mudá-lo se a busca não partir dele.

Um fato importante é que geralmente, dependendo da história de vida de cada uma, o homem mais atrativo pode ser aquele que proporcionará reviver a emoção mais próxima do que foi vivido quando criança. Talvez isso soe mais familiar e mais confortável.

O fato é que mesmo estas experiências tendo sido impactantes, todo comportamento aprendido pode ser mudado. O ser humano é muito sensível às circunstâncias da vida e assim como essas experiências deixaram marcas, outras experiências saudáveis podem trazer melhoras e calmaria para os corações descontrolados. Se habituar ao amor verdadeiro pode não ser tão ruim assim.


Mas o que eu posso fazer para mudar?

Um primeiro passo, como sugere a própria filosofia dos grupos anônimos é reconhecer o problema. Mas apenas isto não basta, é apenas o começo.

Após reconhecer e aprender a identificar parceiros problemáticos, um outro passo é aprender sobre relações saudáveis, estar atento aos parceiros saudáveis e se expor a eles. Expor-se a um bom período de sensações de ser amada pode contribuir para que você se sinta bem neste lugar e isso leva certo tempo, é preciso persistência. Saiba que ser amada é um direito seu e que sempre lhe foi digna. É como dirigir um carro de câmbio automático, no começo você estranha, mas depois se habitua e seguir o caminho se torna mais fácil, confortável e gostoso.

Muitas pessoas acreditam que podem fazer estas transformações sozinhas e acabam se enveredando por caminhos ainda mais tortos. É muito importante buscar uma ajuda especializada, mas como ficaram desamparadas por um bom tempo, muitas vezes elas evitam a busca por ajuda profissional por acreditarem que não mereçam tanto investimento ou por um desconforto em serem cuidadas. Talvez este seja um bom começo para uma profunda jornada na busca do amor próprio.

E amar-se é um exercício que enquanto não for aprendido, dificilmente você se sentirá pleno e realizado consigo mesmo.

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